sou posto de lado
e sou partido
o meu tronco despojado
os meus braços abandonados
as minhas pernas ignoradas
a minha cabeça menosprezada
e sou deixado ao relento
frágil, à mercê dos elementos
na noite gelada
pega em mim
traz a tua mão e reconstrói-me
deita fora o de não precisas
dá-me aquilo de que necessito
tenho de partir
ficar mais perto do que está longe.
faz-me sentir leve, mas seguro
o que fica para trás torna-se vago
o que vem para a frente parece puro
e lá do alto vejo o sol já vai meio fora da água
escapando-se do infinito lago
lentamente, sem dor, sem mágoa
guia-me pelo ar
não me deixes cair
dá-me o teu tempo e habitua-te a mim
eu sou apenas isto
não queiras gastar o que temos
para se consumir num segundo
os ventos sopram-me para além
mas a minha corda está amarrada
presa da minha asa
ao chão da minha casa
sofre frustrada
à espera de ninguém
mas para já estou contente
e fico a apreciar o panorama
perto da minha cama
as nuvens passam rente
preso até que alguém me liberte
o nó górdio desaperte
mas olhando o horizonte
a sós com a minha ambiguidade
na minha marcada cabeça
receio que apareça
uma nova tempestade
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