eles virão buscar-vos brevemente...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

a espécie de biografia do meu pai

Estava a fazer uma leitura de revisão do livro que o meu pai tem escrito sobre as suas memórias e deparei-me com um segmento que, por me dizer respeito, não deixou de me emocionar. Achei interessante por isso incluir aqui esse excerto, já agora para avaliarem um pouco a escrita do meu pai. Espero que ele não se importe com esta pequena fuga, já que o livro está ainda em desenvolvimento. Diz assim então:

"19/06/1992 - Festa de finalistas.
Neste dia terminou um ciclo nas nossas vidas. O Nunito deixava o infantário onde passou cinco anos da sua vida. O ar alegre e radiante com que recebe o testemunho contrasta com a tristeza e desespero dos primeiros três dias em que lá esteve, cinco anos antes. Sei do que falo pois o infantário era mesmo ao lado do meu local de trabalho e cabia-me a mim a tarefa de o levar e trazer.
No primeiro dia foi difícil desprendê-lo do meu pescoço. Chorava baba e ranho e partia-me o coração. Soube ao fim da tarde, quando o fui buscar, que passou o dia sem comer, triste e saudoso, soluçando sem parar. Quando ouviu a minha voz e me viu chegar, agarrou-se novamente ao meu pescoço e desabafou chorando, acho que chorámos os dois. Ele possivelmente pensou que o pesadelo teria chegado ao fim, já eu antevia o próximo ou próximos dias...Não me enganei muito.
No dia seguinte, ao virar a esquina, logo reconheceu o local e quando entrei pela porta do prédio já ele se agarrava com afinco e as lágrimas lhe corriam pela face. Não tinha como não o deixar...que tormento...uma parte de mim ficava com ele, a outra dirigia-se ao trabalho e cumpria minimamente a sua obrigação.
No terceiro dia já ficou sem oferecer resistência e progressivamente foi adquirindo confiança, amizade e gosto pelo convívio e ensinamentos.

Um bem haja às suas educadoras."

O curioso é que me lembro vivamente destas separações; no entanto, talvez por me terem marcado tanto, tinha presente que todos os dias eram assim e que não havia esse conformismo que o meu pai relata. Só para se ver como as memórias nos podem pregar partidas...


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