eles virão buscar-vos brevemente...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

xenomorfos no cinema português. 04/2011

Quando ninguém nos lê há uma liberdade inerente para resolver o que se quer exprimir. O problema é quando não se antevê qualquer assunto, ideia ou conceito que mereça sequer ser referido.
Agora que me lembro, esta noite já foi a segunda em que a meio do sono acordo com uma tosse irritante, daquelas que desce às profundezas dos pulmões e os põe a arder, em troca de alguma expectoração. Mas porque é que durante o dia esta situação está controlada e é precisamente à noite, a meio de um daqueles sonos REM que misturam voo com outras fantasias menos discutíveis, mais selvagens, que o meu organismo se lembra de convulsar? Lembro-me agora de que não sou fã de perguntas sem resposta, portanto se alguém souber efectivamente uma razão para tal fenómeno, por favor indique-me qual.
Outra coisa; já que não tenho assunto interior para abordar, para além dos meus já referidos pulmões, recordo-me de ontem ter visto o programa "Os culturistas" do canal Q com o convidado especial sendo nada mais nada menos que o realizador João Botelho. Admito que não entendo a irritação daquele senhor. Não falo sequer do facto de ser um programa que aborda a cultura com humor, mas apenas porque claramente a posição anti-entretenimento dele ser tão forte e intrínseca que é impossível sequer qualquer discussão. É frustrante pensar que há pessoas em Portugal que dizem que há vários tipos de cinema, que as pessoas têm a liberdade para fazerem o que quiserem, mas depois ataca uma possível corrente comercial em Portugal. É talvez o primeiro a dizer que o cinema nasce com o entretenimento e é claramente fã do cinema de Ford e de outros autores do cinema clássico americano, mas está tão fechado à ideia do cinema como arte e vanguarda modernista que parece não ver os seus próprios filmes e acha que por incluir técnicas de outras artes dentro do seu cinema, que o poderá fazer uma obra-prima além-fronteiras. O chiaroscuro, Sr. Botelho, está ultrapassado enquanto ponto de originalidade e por si só não vale nada. Veja o "Nightwatch" do Peter Greenaway e aprenda. Mas mais que tudo, aquilo que tem de aprender é alguma modéstia; todos sabemos que já passou por muito a lidar com pessoas horríveis e corruptas do cinema português, pessoas essas que deviam estar presas há muito tempo em vez de ganharem dinheiro para os jaguares e pó de "arroz". Mas o sonho de quem fala do cinema português enquanto marasmo é porque olha para o cinema dinamarquês, japonês e coreano e vê como possível uma ligação da arte com boa história e entretenimento e sim, sonha com uma pequena indústria que o senhor, com muita razão, diz não existir. Porquê tanta irritação? Eu acho que está irritado, porque se houvesse uma indústria auto-suficiente e o ICA deixasse de existir, havia muita gente que deixaria de fazer filmes. No entanto, se o que diz acerca dos filmes portugueses saírem e serem bem vistos lá fora com resultados é verdade, sem dúvida que continuariam a ser feitos.

Ai que agradável não seria que o João Botelho lesse isto.

2 comentários:

  1. Sabes que concordo contigo e penso que sou ao mesmo tempo mais radical que tu na problemática do cinema português. Para mim, temos de ser comerciais o mais rapidamente possivel, voltar a aprender a fazer os portugueses regressarem aos cinemas para verem filmes portugueses. Admito que se tenha de perder, caso os nossos grandes artistas assim o pensem, alguma dignidade e fazer algo mais simples e imediato. O público pode estar mais estúpido, mas está também mais atento aos nossos erros (se isso fizer sentido) e se não alimentarmos esse público com confiança, ele nunca quererá ver o que está para lá da nossa arte.
    Temos de primeiro saber contar uma história e entreter, só depois podemos começar a experimentar com a nossa cinematografia. Infelizmente, a nossa época clássica e mais comercial há muito que desapareceu e desde os 70s que só fazemos o espectacular "novo cinema portuguÊs" que está mais podre que a nossa economia. Tentámos fazer o mesmo que a Nouvelle Vague francesa, mas apenas conseguimos criar uma amalgama de géneros e ideias que nenhum dos realizadores consegue desenvolver com êxito.
    É triste, mas é a verdade. Nós não sabemos fazer bons filmes de entretenimento que tenham uma boa história, sejam divertidos e passem uma mensagem. Raios, nós nem o "Novo Cinema Português" sabemos fazer, quanto mais inventar. Precisamos de encontrar uma nova alma para a nossa cinematografia, sacrificar alguns aspectos, mas ganhar o respeito do público. Enquanto se achar que o público não interessa assim tanto, continuamos a fazer filmes para as moscas. Vamos lá a fazer boas histórias.
    E foda-se, o cinema é tanta coisa, não é só a forma como se filme. É o som, é a fotografia, é a realização, são os actores e o argumento. Um realizador dizer que isso não interessa é estúpido e deixa-me triste.


    P.S. - Este texto é maricas, Nuno.

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